Um acontecimento ocorrido na blogosfera repercutiu fortemente nos mídias tradicionais do Brasil: a criação do blog da Petrobras. Você se pergunta: “Mais um blog. E daí?” Daí que a internet ainda é uma invenção jovem, há muito o que inovar, e a comunicação da Petrobras demonstra isso.
Envolvida em um jogo de forças que tem como foco a exploração de jazida de petróleo da plataforma Tupi, o chamado “pré-sal”, e as eleições gerais de 2010, a Petrobras tornou-se alvo de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para averiguar uma manobra contábil realizada para reforçar o caixa da empresa, entre outras justificativas. Os grandes jornais do país deram ampla cobertura ao assunto, mas sempre dentro do ponto de vista do veículo, o que nem sempre representa todas as posições de nossa complexa e heterogênea sociedade, e certamente difere do entendimento da própria Petrobras. Partindo desse princípio, e buscando aproximar-se da população brasileira, a equipe de comunicação da companhia resolveu criar um blog: o “Fatos e Dados” (PetrobrasFatoseDados.wordpress.com).
Talvez mesmo sem ter idéia da repercussão desse ato, o blog publicou perguntas feitas pelo jornal “O Globo”, e as respectivas respostas, antes até de sua publicação no jornal. Ou seja, o jornal sofreu um “furo” da própria fonte. Realmente, é o primeiro grande caso em que um jornal sente-se intimidado pela fonte, e reivindica proteção. A estratégia funcionou, os jornais alimentaram a polêmica, e o blog da Petrobras é um sucesso na internet.
Esse fato é cheio de simbolismo e significados. Tem evitado muitas distorções nas respostas publicadas, pois virtualmente elimina a mediação dos grandes jornais entre a fonte e o público, mas acima de tudo essa iniciativa é inovadora, pois é pioneira na utilização dessa ferramenta como instrumento oficial de comunicação institucional. Mas a comunicação da Petrobras vai ainda além. Porque pode, e há verba para isso, tem patrocinado links em alguns jornais que publicam matérias sobre o caso. Esses links remetem à página do blog, e dessa forma o leitor online do jornal conhece e tem acesso à outra fonte. Nesse caso, à visão da Petrobras. A equipe de comunicação também passou a monitorar os diversos veículos de notícias, e tem respondido através do blog. O que no passado era papel do porta-voz, hoje é desempenhado, com mais eficiência, pelo blog.
Mas ao mesmo passo em que isso é salutar, pois dá espaço ao contraditório, pode estar sinalizando não apenas que está havendo um equilíbrio na balança, mas também que a disputa nas mídias tende a se deslocar para a internet. Muitos formadores de opinião têm preferido informar-se online, seja em sites de grandes jornais, seja em blogs alternativos, e há tendência de crescimento. A interatividade também aqui mostra seu poder, pois várias notícias são alertadas a partir de sugestões em comentários de notícias. Talvez até algumas das estratégias do blog, como patrocinar links, podem ter surgido ali.
Há uma nova mídia funcionando, e tudo indica que a mudança é irreversível. O advento da internet tem dado às informações velocidade compatível com sua relevância, e há muito tempo carecemos de credibilidade. Por outro lado, a blogosfera há muito tem se mostrado um canal eficiente de comunicação, com participação e interação do público leitor. Todas essas constatações, mais a hostilidade das mídias tradicionais (que se traduz em preconceito aos blogs) parecem indicar que os jornais que não adequarem seu conteúdo editorial aos novos tempos se tornarão em pouco tempo extintos. Esse caso pode até não servir como padrão para outros, mas já é um marco para o jornalismo e relações públicas no Brasil. Fico feliz de viver esse momento, de poder interagir nessa mudança. De qualquer forma, estamos diante de uma nova era na imprensa. Definitivamente, estamos entrando na era da informação.
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