quinta-feira, 26 de julho de 2007

Começa a aflorar a verdade sobre o Iraque

Publicado na Folha Online, via Bol Notícias (em "entretenimento"), hoje à tarde:

Documentário sobre erros na guerra do Iraque chega aos cinemas nos EUA

Depois de vários filmes que foram uma crônica da vida dos soldados e civis nas frentes de batalha no Iraque, o diretor americano Charles Ferguson, 52, lança esta semana nos Estados Unidos uma obra que enfoca os artífices do conflito e os preparativos para iniciá-lo. Em "No End In Sight" --que levou o prêmio especial do júri no Festival de Cinema de Sudance--, o diretor explora nas telas grandes como foram tramadas as decisões para a invasão dos Estados Unidos no Iraque, em 2003. Ferguson, formado em ciências políticas, foi membro do centro de pesquisa e análise política do Washington Brookings Institute e, em 1996, ganhou US$ 133 milhões com um negócio na internet, com o qual autofinanciou seu filme de US$ 2 milhões. Com uma precisão de cirurgião, o diretor desenha de forma ferina os planos que os Estados Unidos traçaram para depois da invasão do Iraque, servindo-se do testemunho de 70 figuras-chave. Revelando uma cadeia de decisões políticas da Autoridade Provisória da Coalizão (CPA), que incluíram a dissolução do exército iraquiano, o desmantelamento do Partido Baath, de Saddam Hussein, e o fracasso para conter as desordens civis, o filme explora de forma meticulosa cada passado tramado pelos arquitetos do conflito. As conclusões resultam fulminantes e tal como afirmou um crítico esta semana: "inclusive o público mais bem informado ficará de queixo caído". Ferguson afirma que desejava fazer o filme como uma resposta ao modo com que a guerra no Iraque teria sido abordado incorretamente nos meios de comunicação. "Como especialista em ciências políticas, com muitos amigos analistas de política externa, fiquei especialmente preocupado com a qualidade da cobertura", afirmou. "Foram escritos livros muito bons sobre o Iraque, mas poucos americanos têm tempo para ler um livro de 400 páginas. Não podemos ter uma idéia geral de um problema complicado vendo televisão ou lendo os jornais", explicou. "Eu já conhecia boa parte dos fatos gerais, mas quando fui me inteirando de como era idiota e absurdo o comportamento da administração, resolvi não voltar atrás com o projeto". Para Ferguson, a grande pergunta é se os principais artífices da guerra, o ex-secretário da Defesa americana, Donald Rumsfeld, e seu adjunto Paul Wolfowitz, vão prestar contas por estes fatos. Ambos se negaram a aparecer ante as câmeras do diretor. "Estou certo de que serão julgados severamente pela história, e isso já começou", concluiu.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Lembranças de 64

Mais do Dialógico:

Golpismo em marcha!!!

Terça-feira, Julho 24, 2007

A mesma canalhada que preparou o golpe de 1º de abril de 1964, que apoiou a ditadura militar, que se desenvolveu naquele período e que ainda devasta o país, é a mesma que prepara o golpe de estado contra o Presidente Lula. Até a estratégia é igual: muita manchete sensacionalista, com mentiras deslavadas em capas, reportagens e editoriais.
Será que o povo brasileiro se dá conta do que está acontecendo? Ou será que irá cair no mesmo conto do vigário? Em 1964, a mentira como pretexto para o golpe se chamou "comunismo". A de 2007, a mentira utilizada para pretexto é "um governo que não faz nada, ineficiente e despreparado".
Não percam as leituras dos blogues abaixo. São de fundamental importância para ficarmos em alerta.
posted by Claudia Cardoso

Sobre censura e mentiras

Mensagem que transponho do Dialógico, blog especializado em Mídia, editado pelo crítico casal Eugênio Neves e Cláudia Cardoso. É muito bom, confiável e muitas vezes antecipa pautas. Vale a pena passar lá e conhecer melhor aquele espaço. Por enquanto, lê aqui:

Como montar uma mentira passo a passo

Quarta-feira, Julho 25, 2007
Conheça aqui a verdade sobre a mentira da censura governamental contra a publicidade de montadora. Não deixem de acessar todos os linques que aparecem nos textos, para ver o tamanho da empulhação, que hoje atende pelo nome de "marketing viral", uma mistura indigesta de mentira, desinformação e propaganda. Prestem atenção na falta de caráter da montadora e da agência responsável por essa "pérola viral". Tentaram maximizar o resultado com o menor custo possível, aplicando o mesmo golpe duas vezes. Leiam e espalhem. Mostremos a eles o que é marquetingue viral de verdade!
Fonte Blog do Mello:
Terça-feira, Julho 24
Peugeot explora acidente da TAM com mais de 200 mortos para vender marca
Há exatamente uma semana, fiz uma postagem aqui, Retirada de propaganda do carro é só propaganda, em que afirmava que a Peugeot estava fazendo marketing viral, quando espalhava que o governo mandou retirar do ar propaganda que brincava com a frase da ministra Marta Suplicy, “relaxa e goza”.
Na ocasião, não disse a marca do carro, porque isso era exatamente o que eles queriam. Mas hoje eu falo da Peugeot, porque dessa vez eles não querem que se denuncie a vergonhosa, ignominiosa utilização do acidente da TAM para vender sua marca.
Está lá na Meio & Mensagem de 18 de julho a seguinte informação (os destaques são meus):
"Em razão do trágico acidente aéreo ocorrido terça-feira, dia 17, no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, a Peugeot do Brasil e a Euro RSCG Brasil decidiram retirar do ar hoje a campanha de varejo da marca, que chamava a atenção para o problema da crise aérea brasileira. Consternados com a tragédia e em respeito às vítimas do acidente e seus familiares, as empresas preparam uma nova campanha, que deve entrar em veiculação nesta quinta-feira, dia 19".
É mentira! Eles veicularam anteriormente que o comercial sairia do ar por causa de supostas pressões do governo Lula, como demonstra reportagem de O Globo de 17 de julho (grifos e comentários são meus)
A Peugeot retirou do ar sua nova campanha publicitária, que usava como mote a crise aérea e a famosa frase “relaxa e goza”, da ministra do Turismo, Marta Suplicy. Longe de seguir apenas critérios comerciais, segundo executivos da montadora, a decisão saiu sexta-feira [13 de julho, portanto, quatro dias antes do acidente com o Airbus da TAM] após a direção da fabricante de veículos ter sofrido pressão do governo, que se disse insatisfeito com a exposição negativa da ministra.
Os pitblogueiros em seus pitblogs e a mídia antiLula em geral deitaram e rolaram com a tal censura. Faziam papel de bobo, como alertei na postagem que fiz:
O que me diverte é que os antiLula estão fazendo propaganda de carro, quando pensam que estão atacando o governo. E com que alegria eles são manipulados!
Agora estão vendo que, como no título de minha postagem, a retirada de propaganda do carro era só propaganda. Assim como a suposta consternação e o suposto respeito às vítimas divulgados na nota de Peugeot são apenas uma manipulação barata da dor dos outros, com o mesmo objetivo: valorizar a marca. A decisão de retirar o comercial do ar havia sido tomada quatro dias antes do acidente.
No caso da brincadeira com Marta, foi oportunidade. Com o acidente da TAM, oportunismo.
Como castigo, espalhem esta mensagem pela rede e usem agora o marketing viral contra a Peugeot.

Fonte Palanque do Blackão:
AGÊNCIA MENTE QUE LULA PROIBIU PUBLICIDADE DA PEUGEOT - 25 07 2007
O Blog do Mello levanta um escândalo que, pra mim, comprova que a publicidade das grandes agências e o jornalismo da Grande Mídia representam a mais pura ruindade profissional e ética. Nosso país está pior servido agora do que na época da ditadura militar. Afinal de contas, o servilismo daquela época era questão de sobrevivência. Hoje, é ou em busca de visibilidade, fama e dinheiro, ou na crença de que não vão conseguir lugar melhor para trabalhar, oou porque não têm capacidade de empreendedorismo.
Ser bom, ser competente, ser respeitoso, ser culto, ser ético não significam que basta ir lá, obedecer à pauta e ao briefing, ser criativo, saber escrever, saber layoutar, fotografar ou editar: DIZE-ME COM QUEM ANDAS QUE TE DIREI QUEM ÉS.
Vamos ao fato: assim como o prefeito do Rio de Janeiro César Maia disse que basta pôr um boateiro em cada botequim da Cidade Maravilhosa para que uma pauta de interesse da agenda do seu governo (ou de quem quer que ele queira beneficiar) se espalhe como se fosse verdade, a agência multinacional Euro RSCG Brasil adotou a estratégia do marketing viral para espalhar pela internet que seu anúncio de péssimo gosto tripudiando em cima das vítimas do Airbus da TAM, misturando alhos com bugalhos ao utilizar, para um carro da Peugeot e aproveitando a ocasião do acidente, a expressão “relaxa e goza” da política Marta ex-Suplicy.
O golpista jornal O Globo publicou primeiro e o resto da mídia golpista (e até mesmo muitos mestrandos e professores universitários de Comunicação - pasmem) caíram nesse conto.
Tudo sobre o factóide viral está nos seguintes links:
Retirada de propaganda do carro é só propaganda
Meio e Mensagem (18/07/2007 - 14:05h)
A MENTIRA D’O GLOBO (16/07/2007 23:35h)
O que é marketing viral?
O Brasil está-se tornando um país horroroso pra se viver. Não em função do assalto que sofri há cerca de um mês atrás defronte ao prédio ao lado do meu e da quase tentativa de assalto no mesmíssimo lugar (do qual não tenho como escapar para chegar em casa) ocorrida ontem. Nem por causa do caos aéreo (que é global, não é problema exclusivo e nem tampouco pior por ser no nosso país; não é coisa da ANAC, da INFRAERO, do Ministério da Defesa do Governo Lula, nem do PT). Não apenas por causa da fome e do desemprego. Não por causa da poluição ou dos transgênicos. Não é por causa do pior governo que o RS e Porto Alegre já tiveram em todos os tempos.
É por causa da mídia. O Brasil tem o pior jornalismo do mundo. Tudo porque a esmagadora maioria dos jornalistas competentes e honestos que ainda se lembram do juramento que fizeram na cerimônia de suas formaturas é covarde.
Covarde porque não servem nem pra defender a honra da sua profissão, manchada pelos interesses dos donos de 70% dos veículos do país, que arrecadam 74% da publicidade do país.
Valentia, ousadia, independência, investigação, respeito às fontes, comprovação dos fatos antes de publicar: cadê essa porra toda?!
Felizmente, o jornalismo como ele é está entrando em entropia. Tudo o que entra em entropia acaba destruindo a si mesmo em função da desorganização sistemática e crescente da praxis do seu modus operandi.
No que ele vai se transformar, ainda não sabemos. Contudo, o modelo atual está indo para o buraco. Afinal de contas, a credibilidade da mídia está indo para as cucuias.
Até Satã vai rejeitar as almas dos maus jornalistas e dos maus publicitários.
posted by Eugênio Neves

terça-feira, 24 de julho de 2007

"In Memoriam" ao Professor Lopez

Artigo do site do Jornal Já, enaltecendo o grande professor e historiador conhecido por muitos (especialmente por seus alunos) como Lopez. Lecionou no UNIFICADO, e era professor da UFRGS. Figura realmente inesquecível, que ministrava magníficas aulas:

Luiz Roberto Lopez: Uma Presença Insubstituível

Mário Maestri *

No dia 22 de julho, cumpre-se mais um aniversário do falecimento do historiador Luiz Roberto Lopez, em Porto Alegre. Nesses três últimos anos, foi enorme o peso da falta de Lopez, para seus amigos, companheiros, familiares e, sobretudo, para o imenso público, especialmente de Porto Alegre e do RS, ao qual se dirigia, em forma sempre brilhante, como professor, historiador, articulista, conferencista, polemista.

Como professor da UFRGS, historiador da Secretaria da Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, diretor da discoteca Pública Estado, organizador e primeiro diretor do Memorial do RS e professor de cursos de Porto Alegre, Luiz Roberto Lopez construiu vasta e significativa obra, com destaque para as sínteses históricas sobre o passado do Brasil e da Europa moderna e contemporânea, registrada em livros, ensaios, artigos, etc., em parte dispersos ou inéditos.

Homem de vasta e sólida formação humanística, interessado na música, literatura, cinema, Luiz Roberto Lopez destacou-se na docência da história da Cultura, disciplina que lecionou, por longos anos, na UFRGS. Seus dois ensaios sobre a cultura brasileira, desde a descoberta do Brasil ao pré-modernismo, lançados em 1988 pela Editora da UFRGS, constituem um pequeno clássicos da historiografia da divulgação científica, pela qualidade e elegância do texto e interpretação fina e singular das questões abordadas.

Também na área da Cultura, Luiz Roberto Lopez venceu, em 1996, o prêmio literário Açorianos, principal distinção literária sulina, com o livro Sinfonias e Catedrais: representação da história na arte, publicado também pela editora da UFRGS. Nesse trabalho dedicado à análise da cultura ocidental, a partir das grandes expressões arquitetônicas e musicais do pós-Renascimento, reafirmou sua sensibilidade e opções analíticas.

Na abertura desse trabalho, lembrava que, hoje, “o problema” “não é mais reconhecer que o elemento social permeia a produção artística”, mas sim “descobrir como isso ocorre”. Também na introdução, explicou que, no período específico abordado, um dos objetivos centrais de seu trabalho “era mostrar que, ao longo do tempo, a História dos conflitos e interesses de classe também foi uma história de criatividade e beleza”.

Nesses tempos crescentemente áridos, de vira-voltas ideológicas contínuas, Luiz Roberto Lopez revelou-se intelectual intransigente no cumprimento de sua função social. Em forma irredutível, perseverou na permanente luta, no campo da ideologia, cultura e ciência, contra as visões irracionalistas e conservadoras. Quando jovem, em plena ditadura militar, abraçou o marxismo como método de interpretação do mundo, para servir-se dele, com crescente virtuosismo, até seu falecimento prematuro, aos 57 anos.

Luiz Roberto Lopez materializou como poucos a função do intelectual marxista, em seu domínio de intervenção, através do estudo sério e permanente da sociedade, do presente e do passado, nos seus aspectos históricos, sociais e culturais, a partir de suas contradições de classes insanáveis, sempre com o objetivo de disputar, não raro em duras polêmicas, a hegemonia das consciências, na luta pela construção de mundo onde o homem seja, finalmente, algum dia, amigo do homem.

Luiz Roberto Lopez deixou aos seus companheiros, alunos e amigos muito mais que a saudade do homem culto, espirituoso, fraterno, respeitoso, amante da vida em todas as suas dimensões. Deixou um exemplo de vida a ser recolhido, seguido, difundido.

Por iniciativa de sua companheira, Vera Lúcia Remedi Pereira, e dos membros do Centro de Estudos Marxistas do RS, do qual participou, com singular assiduidade e produtividade, desde a fundação, em 1995, até o encerramento de suas atividades, em 2003, os companheiros e amigos de Luiz Roberto Lopez se reunirão, no sábado 21 de julho, às 17h, no Plenarinho da Reitoria da UFRGS, para ato de registro do terceiro ano da sua morte. Após a cerimônia, será discutida a proposta de formação de Associação dos Amigos e Companheiros do Historiador Luiz Roberto Lopez.

* historiador e professor da UPF

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Jornalismo é subversão!

Extraído do blog Ponto de Vista, publicado pelo professor Wladimir Ungaretti. Para quem não conhece, é um blog que aponta vários dos vícios de nossa "mírdia showrnalística", especialmente as tendenciosidades do Partido RBS, ou PRBS. É bom consultar, nem que seja de vez em quando, pois se estamos sendo ludibriados, que o sejamos sabendo disso, não?

Uma nova edição

por WU

Nos últimos quatro anos, religiosamente, disponibilizamos uma nova edição do sítio pontodevista nos dias 20 do mês. Mudamos a abertura e editamos de 10 a 15 novos temas, totalizando muitas vezes mais de 20 páginas. Reformulamos ou acrescentamos novas informações às já existentes. Abandonamos algumas temáticas, provisoriamente; e, retomamos outras. Aumentamos ou diminuimos o número de indicações de livros dependendo da nossa própria leitura. O Blogpontodevista, com postagem diária de segunda a sexta, ocupa uma boa parte do tempo de trabalho da equipe. Após termos criado este novo espaço aumentou - significativamente - o número de visitas. Temos um lado. Muitas vezes somos panfletários. É jogo aberto. Perseguimos a noção de que jornalismo é intransigentemente fidelidade à verdade factual, inarredável espírito crítico em relação a tudo e incansável vigilância do poder, de qualquer natureza. Jornalismo é subversão. Quando cometemos algum erro ou engano, sem qualquer dificuldade, reconhecemos. Não temos nenhuma preocupação com a coerência ou a lógica. Escrevemos com a alma. Como dizia o poeta Raine Maria Rilke: “Investigue a causa que o impele a escrever; verifique se ela estende raízes até às profundezas do seu coração. Confesse-se: morreria se estivesse proibido de escrever? Antes do mais, na hora mais serena da noite, pergunte a si próprio: ‘Devo escrever?’ Mergulhe no seu íntimo em busca de uma resposta profunda; se ela fôr afirmativa, se puder responder a essa grave pergunta com um vigoroso e singelo ‘devo’, construa sua vida em função dessa necessidade. Sua existência, mesmo na mais insignificante e indiferente das horas, tem de ser signo e testemunho dêsse impulso.” Vivemos desses impulsos. Nosso trabalho é resultante de muitas horas de leitura, do manuseio de muitos jornais e revistas, de uma atenta e criteriosa atividade de comparação de materiais, de muitas horas dentro das mais diversas livrarias, de uma atividade de constante observação das ruas, de um olhar a tudo de forma jornalística e de um deixar-se tocar por emoções e subjetividades. Desconfie de quem escreve com muita facilidade. É verdade, escrevemos com a alma. Acredite.

Sobre o "apagão aéreo"...

Também no NovaE.inf.br:

Como quartéis e redações se articulam para derrubar Lula

Mauro Carrara
À beira da Marginal do Tietê, na redação do jornal O Estado de S. Paulo, no sábado, dia 21, um alto hierarca da redação pronunciou a frase, ao fim de uma reunião com os editores: - O engraxate vai voltar para Garanhuns. E eu acho que não vai ser de avião... Nessa e em outras redações, a ordem tem sido selecionar TUDO que seja desfavorável ao governo no episódio do acidente da TAM. O clima de pressão e constrangimento tem feito com que vários jornalistas chorem as pitangas no ambiente privado. O Estadão, por exemplo, controla meticulosamente a inserção de novas matérias em seu site "ão", buscando construir uma imagem de terror e associá-la diretamente ao presidente da República. Debaixo das informações sobre a tragédia, há uma "enquete" em que se pergunta ao leitor sobre o que "marca" o governo Lula. É óbvio. Os condoídos, os desesperados e os oportunistas cedem à pulsão de encontrar um culpado e, sobre ele, soltar seus demônios. A Rede Globo, capitaneando o golpe, deu para desconsiderar o laudo do respeitado Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Colocou na tela a imagem do excêntrico comandante Brosco, aquele que quase se acidentou com o MESMO avião na noite anterior, no mesmo aeroporto. Brosco disse, conforme desejo de Ali Kamel, que a culpa é da "pista". Livrou a cara da empresa e cuspiu na opinião de outros dezenas de colegas que pousaram, sem problemas, na mesma pista. Em 31 de Março passado, a Internet recebeu uma chuva de mensagens apócrifas sobre um golpe de estado, levado a efeito para devolver o poder àqueles que o detinham durante o período militar. Nesse dias, não por acaso, houve grandes atribulações nos aeroportos. De lá para cá, recrudesceu a atitude de certos fardados e ex-fardados contra o governo legitimamente eleito. A estratégia tem sido a seguinte: - Desabilitar, sempre que possível, os sistemas de controle de vôo, de forma a aprofundar o caos aéreo e fornecer munição à imprensa. - Agir nas áreas estratégicas de informação e controle, provocando ruído nos sistemas de informação do governo. Nos sistemas de investigação, vazar o que for negativo ao governo. - Atuar na doutrinação intensiva de jovens oficiais, de modo que o novo tenentismo sirva à causa golpista, vide site Ternuma. Uma fonte me confessou na noite de sábado, dia 21: - A chance de um problema deste acontecer (pane no Cindacta-4) é de uma em um bilhão, especialmente do modo que foi e no momento em que foi. Enquanto todos esses fatos ocorrem, há imobilidade total do governo e das forças democráticas. No máximo, há um ou outro que expõe sua indignação no meio digital. Chegou a hora de se criar uma resistência midiática efetiva, que comece pelo governo. Lula precisa sair da toca, ligar o vídeo e aprender com o falecido Leonel Brizola a encarar a Rede Globo. As forças democráticas precisam agir, e rapidamente, para divulgar massivamente a informação não contaminada. É preciso haver defesa, enquanto ainda há o que se defender.

Vlado: Um caso a ser lembrado sempre

Publicado no excelente NovaE.inf.br, repercuto aqui parcial de entrevista concedida pela viúva de Vladmir Herzog, jornalista assassinado sob a tutela da União, então administrada pelos militares ditadores no Brasil. Vale a pena ler até o fim.

Clarice Herzog: “Eu não anistio os torturadores do Vlado”

Por Cylene Dworzak Dalbon
25 de outubro de 1975, Rua Tutóia, cidade de São Paulo. Nas dependências do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), um homem é torturado com pancadas e choques elétricos. Seus companheiros, na sala ao lado ouvem seus gritos. O homem recusa-se a assinar um suposto depoimento por não admitir que as informações constantes naquele pedaço de papel sejam verdadeiras. Ele não escrevera nenhuma palavra daquilo. Em um ato de indignação, rasga o papel. E num ato de maior indignação ainda, mesclado a ira, seu torturador o esbofeteia. Os amigos, na outra sala, não ouvem mais seus gritos. Algumas horas mais tarde, dentro de uma cela no mesmo departamento, uma foto do homem morto, amarrado por uma tira de pano em um pequeno pedaço de ferro no alto da cela. O Inquérito Policial Militar, IPM dá como causa da morte suicídio por enforcamento. Esta era a versão oficial sustentada pelos militares e ignorada pela família. Vladimir Herzog havia sido assassinado e seus torturadores haviam montado uma farsa grotesca para encobrir a barbaridade que haviam feito. O relato acima caberia muito bem em um romance policial. Mas não é ficção. O fato tenebroso e covarde existiu. Quando os gritos silenciaram, Vladimir Herzog estava morto. Inicia-se então, o começo da luta pela abertura política na história ditatorial que acabaria de fato, 10 anos depois, em 1985. Vlado, como era conhecido por familiares e amigos, é hoje um símbolo, e não só para os jornalistas. E está tão vivo na memória de quem presenciou e viveu a história, como na de pessoas que se apaixonam pela emocionante história de vida de Vlado e se revoltam com a monstruosidade e tristeza de sua morte. Em entrevista exclusiva para Cylene Dworzak Dalbon, a publicitária Clarice Herzog fala do terrível outubro de 1975, quando seu marido, o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado dentro das dependências do DOI-CODI pelos órgãos de repressão da ditadura. O outubro de 1975 “O outubro de 1975 foi complicadíssimo. Ficaram na memória as coisas relacionadas ao que aconteceu com o Vlado. No começo do mês vários jornalistas foram presos. Estava havendo inclusive um encontro nacional de jornalismo e mesmo assim as prisões continuavam. Foram presos muitos jornalistas ligados ao Vlado e da TV Cultura, o Markum, o Anthony, Rodolfo Konder, o Sérgio Gomes. Foi um momento extremamente tenso. Esperávamos que o Vlado fosse preso devido a essas prisões, e discutimos muito sobre qual seria o teor de seu depoimento – o que nunca passou pelas nossas cabeça é que ele acabaria sendo morto. Vlado, naquele momento estava no Partido [Comunista Brasileiro]. Ele nunca foi muito ligado à política, ele não era comunista – aliás era bastante crítico ao partido. Na verdade, o Vlado era um intelectual, ligado a teatro, cinema, que desejava um mundo melhor, um mundo onde as idéias pudessem ser discutidas e respeitadas. Naquela época existiam duas forças contra a ditadura militar: uma era a igreja e a outra o PCB. Como o Vlado era judeu, optou pelo Partido – a sua área de atuação como militante era a discussão da situação cultural no país – a produção artística, nos vários níveis, estava sendo totalmente massacrada pela censura. O motivo da forte repressão contra o PCB, é que ele estava se tornando uma nova e forte frente e enfrentando a ditadura. Mas aconteceu o que não esperávamos que acontecesse: afinal, apesar do Vlado estar envolvido com o partido comunista, tínhamos empregos, passaporte, residência fixa e não éramos envolvidos com a luta armada.” Londres “Depois do término do contrato do Vlado com a BBC em Londres, eu retornei primeiro com as crianças e o Vlado ficou mais três meses fazendo um curso sobre TV Educativa. Era pra ele chegar ao Brasil dia 15 de dezembro de 1968 (o AI-05 foi no dia 13). Mas ele não chegou. Antes de vir para o Brasil, ele passou por Roma para se despedir do [Fernando] Birri [cineasta e guru de Vladimir Herzog] e lá em Roma viu a manchete no jornal: “Ditadura Militar no Brasil”. E aí ficou a dúvida, se voltava pra Londres, se vinha para o Brasil. E durante duas semanas permanecemos nessa dúvida. Mas a sensação que nós tínhamos é, mesmo com o A15 seria possível fazer alguma coisa aqui, valia a pena tentar. O grito da sociedade e o silencio dos judeus “A morte do Vlado foi um basta. A sociedade civil percebeu que aquilo foi a gota d´água. Na hora em que ele morreu houve uma movimentação. Ele era muito conhecido no Brasil e no exterior; então todo mundo ficou sabendo. A comunidade judaica nunca deu apoio pra nada. Isso é muito importante que se deixe claro. Não havia rabino no velório nem no enterro do Vlado. O culto ecumênico aconteceu graças ao D. Paulo [Evaristo Arns] – aliás, Dom Paulo também esteve presente no velório. Não houve apoio nenhum da comunidade judaica, muito pelo contrário. Tive apoio de amigos judeus, mas não da comunidade enquanto instituição.” Correio Brasiliense “A maneira como foi feita a matéria foi muito sensacionalista, o Correio Brasiliense foi ‘marrom’. Realmente, reconheci a foto de frente como sendo do Vlado; as outras não. A pessoa fotografada era muito parecida com ele, mas houve um engano da minha parte, que só se esclareceu quanto o Nilmário Miranda (Ministro da Comissão dos Direitos Humanos) e o General chefe da segurança do presidente Lula estiveram aqui e me mostraram o dossiê completo da pessoa que tinha sido fotografada e aí percebi que realmente aquele não era o Vlado.” A ação judicial “Foi um processo importante porque houve um resgate da justiça brasileira, do judiciário, e isso fez com que outras famílias também entrassem com o processo contra a União. Não pleiteei indenização porque queria que fosse reconhecido publicamente que o Vlado não havia se matado e sim, que havia sido assassinado; e eu tinha medo de que me pagassem a indenização sem qualquer processo porque afinal o Vlado estava sob proteção do Estado. Clara Charf e Carlos Marighela “Quando voltei de Londres, eu queria ajudar de alguma forma. Fui então apresentada a Clara Charf que na época tinha um nome de guerra, que eu não lembro qual era. Ela se encontrava, vez ou outra, com o companheiro dela. E quando ia com ele em casa, o Vlado e eu permanecíamos no andar de cima – não queríamos saber quem era a pessoa que estava na clandestinidade. Mas, um dia tive um contato breve com o companheiro da Clara porque ela comentou com ele que eu havia perdido um tio assassinado durante o Estado Novo. Então, ele subiu as escadas e me disse: fui companheiro do seu tio na prisão e posso lhe dizer que ele foi um combatente muito corajoso. E eu não sabia que ele era o Marighela, e nem queria saber. Eu tinha medo de me envolver demais.” Anistia “Eu não anistio os torturadores do Vlado. A minha opinião sobre anistia é essa.” 32 anos depois “Este ano o Vlado completou 70 anos. Dói. É uma dor amenizada, claro, mas ela sempre existe. É uma cicatriz que fica. Pode não estar mais inflamada, mas cada vez que se olha pra ela, lembra-se de toda a dor.” Saiba mais sobre Vladimir Herzog: Ditadura no Brasil: Muito além da história

Você concorda?

Artigo publicado no INFO Online:

Opinião de blogueiros vale mais, diz estudo

Segunda-feira, 23 de julho de 2007 - 09h29

Felipe Zmoginski, do Plantão INFO

Spam com PDF

Outro artigo publicado no site INFO Online:

Spammers abandonam imagens e mandam PDFs

Sexta-feira, 20 de julho de 2007 - 18h20

SÃO PAULO - Em vez de enviar e-mails com imagens, os spammers agora remetem mensagens com arquivos PDF anexos. Saiba por quê.

No início deste ano, os spams com imagens correspondiam a 60% do total. Em junho último, esse número já havia despencado para apenas 15%. Em compensação, as mensagens não solicitadas com arquivos PDF anexos cresceram do nada para cerca de um terço de todo o spam. Symantec e McAfee indicam números menores, entre 2% e 7%.

De todo modo, se você presta atenção para as mensagens que chegam à sua caixa postal, deve ter notado a diferença. Por que os spammers mudaram de tática? A causa, segundo a MessageLabs, decorre do aperfeiçoamento dos esquemas de proteção usados pelas empresas. Os dispositivos anti-spam barram severamente os e-mails contendo imagens. Então, os spammers buscaram outras formas de furar esse bloqueio.

Para os spammers, como parece mais "corporativo", o PDF torna mais provável que a mensagem passe pelos filtros e chegue até o usuário -- que é o objetivo final. Observa-se também que eles usam PDFs com aspecto profissional. Resta apenas uma dúvida: mesmo chegando ao usuário, é possível que ele não abra o anúncio para ler o anúncio. Esse detalhe pode matar a tendência do spam com PDF.

Carlos Machado, da INFO

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Continuar a sacrificar as vidas de soldados americanos?

Direto do "Biruta do Sul", publicado em 9 de julho (clique aqui para ver na origem):

NY Times hoje condena barbárie que exultou em 2003

O influente New York Times, assim como o seleto punhado de jornais conservadores dos Estados Unidos, da Inglaterra e da Europa que produzem 90% das notícias que dominam o noticiário no mundo inteiro, em março de 2003 utilizou toda a sorte de ardis e mentiras para estimularem a guerra unilateral promovida por George W. Bush contra o Iraque. A despeito da ONU e de todos os demais países e governos contrários à invasao, à exceção da Inglaterra de Blair, da Itália de Berlusconi, da Espanha de Aznar e de Israel de Sharon.

O NY Times não poupou o tom macarthista na sua cruzada. Dividiu a humanidade em dois tipos, entre “os que são favoráveis aos Estados Unidos e sua estupidez” e os que são “aliados do terrorismo de Bin Laden e seu bando”. Chegaram a inventar, assim, uma nova modalidade de “patriotismo mundial”.

Com o fabuloso poder midiático mundial de pasteurizar e editorializar absolutamente todos os itens da vida moderna – da cultura aos hábitos de consumo, às preferências de educação e “até” os “prosaicos” assuntos de guerra -, este jornalismo conseguiu provisoriamente entorpecer mentes mundo afora com a falácia da “necessidade” da guerra.

Durou pouco: apesar da cegueira intencionalmente provocada, já a partir de abril de 2003, um mês depois do início da invasão anglo-estadudinense, começaram as gigantescas manifestações em todo o mundo contra a guerra.

Hoje, com mais de quatro anos de atraso, o NY Times se volta contra a estupidez que teve papel fundamental na promoção. Sem nenhuma crise de consciência e sem a mínima autocrítica, defende em editorial a imediata saída dos soldados dos Estados Unidos do Iraque.

Sustenta que a saída deve se dar “no prazo estritamente necessário para a remoção operacional e logística”, deixando o Iraque de pernas pro ar e ardendo em fogo. Assim, como se não tivessem mais nada a ver com o assunto. Decerto chamarão a “comunidade internacional” para administrar outra tragédia humanitária semeada pelo governo imperial que defendem.

O NY Times, dessa forma, segue sua sina de colonizadores bárbaros. Faz jus à condição de imprensa imperial. São os donos do mundo, e tirante os interesses dos Estados Unidos, o “resto” não interessa, ainda que sejam os destroços gerados por eles mesmos. Fazem terra arrasada do território e da vida dos outros, extraem todas as riquezas e benefícios almejados e simplesmente caem fora.

É o que fica explícito no texto do editorial de ontem do jornal – “O caminho para casa” -, que prova que quando o cinismo e a canalhice vencem, o futuro se transforma em miragem:

Está assustadoramente claro que o plano de Bush é levar a situação enquanto for presidente e depois despejar a confusão nas costas de seu sucessor. Seja qual fosse sua causa, ela está perdida.

Os líderes que Washington apoiou [sic] são incapazes de colocar os interesses nacionais acima do acerto de contas sectárias. As forças de segurança que Washington treinou se comportam como milícias sectárias [sic]. As forças militares adicionais enviadas à região de Bagdá não conseguiram mudar nada.

Continuar a sacrificar as vidas de soldados americanos é errado. A guerra está solapando a força das alianças e das forças militares do país. Ela é um perigoso desvio de atenção da luta de vida ou morte contra o terror. É um ônus sobre os contribuintes americanos e uma traição ao mundo, que precisa da aplicação sábia do poderio e dos princípios americanos. A maioria dos americanos chegou a essas conclusões meses atrás

Para ler todo o texto do editorial, que foi publicado pela FSP ...

sábado, 7 de julho de 2007

Hasta siempre comandante Che Guevara

Aprendimos a quererte Desde la histórica altura Donde el sol de tu bravura Le puso un cerco a la muerte.

Aquí se queda la clara, La entrañable transparencia, De tu querida presencia Comandante Che Guevara.
Tu mano gloriosa y fuerte Sobre la historia dispara Cuando todo santa clara Se despierta para verte.

Aquí se queda la clara, La entrañable transparencia, De tu querida presencia Comandante Che Guevara.
Vienes quemando la brisa Con soles de primavera Para plantar la bandera Con la luz de tu sonrisa.
Aquí se queda la clara, La entrañable transparencia, De tu querida presencia Comandante Che Guevara.
Tu amor revolucionario Te conduce a nueva empresa Donde esperan la firmeza De tu brazo libertario.
Aquí se queda la clara, La entrañable transparencia, De tu querida presencia Comandante Che Guevara.
Seguiremos adelante Como junto a ti seguimos Y con fidel te decimos: Hasta siempre comandante.
Aquí se queda la clara, La entrañable transparencia, De tu querida presencia Comandante Che Guevara.

Carlos Puebla

Batismo de Sangue, o filme

Ainda sobre o "Batismo de Sangue, a opinião do diretor Helvécio Ratton, direto do Canto do Inácio
"BATISMO DE SANGUE" VAI ALÉM DA SALA ESCURA HELVÉCIO RATTON
Meu filme "Batismo de sangue" vem provocando polêmica. Para algumas pessoas que escrevem sobre cinema, o filme "peca pelo didatismo" ou mostra "cenas apelativas de violência". São afirmações superficiais, marcadas pelo preconceito contra um filme que não se prende a modismos nem segue a cartilha do vanguardismo de butique. Um filme consistente que dispensa malabarismo de câmera ou armadilhas de roteiro. "Batismo de sangue", baseado no livro homônimo de Frei Betto, trata de acontecimentos verídicos, passados entre entre 1963 e 1974. filme tem censura 14 anos está aberto a espectadores mais jovens, que desconhecem o que se passou naqueles anos. O letreiro que abre o filme e situa historicamente período da ditadura, assim como outras informações passadas de forma orgânica no desenrolar da narrativa, tem a função de contextualizar os acontecimentos. Não queremos dar aula de História para ninguém, mas mostrar o fundo onde se recortam os personagens e suas ações. Isso é óbvio para quem assiste ao filme sem pedras na mão, mas a verdade é que algumas pessoas que escrevem sobre cinema têm profunda antipatia por filmes abertos ao público. Para essas pessoas, os filmes devem ser cifrados, numa tal demonstração de inteligência e sofisticação que só os iniciados sejam capazes de decifrar.Confundem o simples, tão difícil de alcançar, com o simplório. "Batismo de sangue" condensa uma extensa pesquisa histórica realizada em documentos oficiais, nos testemunhos de quem viveu os fatos narrados, em livros sobre o período, arquivos de fotos, noticiários de TV, jornais, revistas, filmes rodados na época e documentários. Foram camadas e camadas de informação que alimentaram o roteiro, a direção de arte, o figurino, a fotografia, o elenco. Tudo isso está no filme, mas sem exibicionismo. "Batismo de sangue" quer prender a atenção do público bem informado, capaz de perceber todos estes detalhes, e a dos jovens, para quem o filme se explica por si só, sem que necessitem informações de fora para compreendê-lo. Quanto à tortura, não foi o filme que a inventou. A tortura aconteceu num grau de brutalidade e sadismo muito maior do que está mostrado. O cinema dos dias de hoje avançou e muito os limites do realismo. Tomemos como exemplo os filmes de Tarantino, onde a violência atravessa toda a narrativa de forma injustificada e estúpida. Mas por que será que não taxam de apelativa a violência desses filmes? Porque esta violência é importada com o rótulo de "cult", de "fashion". A violência do "Batismo de sangue" dói porque é eficiente enquanto cinema e porque aconteceu. Só que não havia sido revelada de forma contundente no cinema, e "Batismo de sangue" é o primeiro filme a fazer isso. Em "Pra frente Brasil", o protagonista é preso por engano e seus torturadores são mostrados como se fossem exceção, monstros, ao contrário do "Batismo de sangue", onde são a regra. A tortura a que foram submetidos os freis Fernando e Ivo durou um dia e uma noite, no filme dura poucos minutos. Frei Tito foi torturado durante três dias e três noites. As equipes de torturadores, funcionários do regime militar, revezavam-se e faziam hora extra. No filme, as torturas a que Frei Tito foi submetido aparecem na forma de rápidas visões. Suavizar a violência sofrida pelos dominicanos, torná-la mais palatável, seria uma traição à memória de Tito e ao testemunho daqueles que estão vivos. Já estava mais do que na hora de abordar esses acontecimentos com verdade e audácia, como fizeram nossos vizinhos. Em um debate sobre o filme, disse um estudante que achava que esses fatos haviam acontecido no Chile e na Argentina, que para ele nossa ditadura tinha sido light. O comentário desse jovem deixa claro que nossos filmes sobre o período ficaram na ante-sala. "Batismo de sangue" desce ao inferno à procura de luz, para escancarar com suas imagens realistas a violência impune praticada pela ditadura militar contra seus desafetos. "Batismo de sangue" extrapola os limites da sala escura do cinema e dialoga sobre nossa vida enquanto nação, nosso passado ainda presente, nossos mortos insepultos. Um filme que corre riscos ao retratar personagens vivos e fatos acontecidos há pouco tempo. Um filme que após sair das salas de cinema continuará sendo discutido em outras salas por esse Brasil afora. Construído com delicadeza e contundência, "Batismo de sangue" emociona e faz pensar.

Existe ditadura "light"?

Texto "pinçado" do Nuestro Vino, que achei interessante e importante repercutir por aqui.

Batismo (só) de Sangue?

Estou longe de ser alguém de opiniões confiáveis quando o assunto é cinema. Tenho gosto duvidoso e um senso crítico para questões mais técnicas, como fotografia, roteiro e montagem, similar à vigília das tartarugas do lago da Redenção neste inverno.

Hoje à noite, ao sair da sala em que vi Batismo de Sangue, de Helvécio Ratton, percebi que este filme gera muitas controvérsias. Na internet, confirmei: há posições polarizadas e até mesmo uma suposta manifestação do diretor sobre as críticas. O filme, baseado no livro homônimo de Frei Betto, retrata a participação de cinco jovens dominicanos em apoio à resistência armada nas décadas de 60 e 70, durante (e contra) a ditadura militar.

As críticas, como notei tão logo acenderam as luzes e meus amigos entendidos das artes proferiram suas sentenças, são pesadas: roteiro chumbrega, algumas atuações dignas de novela da Record, trilha sofrível, pancadaria despropositada, etc. Pelas razões com que comecei este cometimento, não tenho autoridade para me manifestar sobre as questões mais técnicas. De fato, o filme parece pecar, para fazer um trocadilho com a atmosfera religiosa constante (nas inúmeras rezas, orações e cânticos que o marcam, além da trilha religiosa que o atravessa) no roteiro: a história começa de sopetão, pretensamente introduzida por um letreiro que procura contextualizar; não há maiores aprofundamentos sobre as relações dos domincanos com a resistência; é recheada idas e vindas (inclusive entre cidades distantes), como numa tentativa de abarcar muitos fatos em pouco tempo. Enfim, a história evolui truncada, abandonando diálogos, deixando de começar outros e atropelando conteúdos. Até eu percebi isso. Quanto a algumas atuações, realmente, foi brabo. Caio Blat, no entanto, como Frei Tito, me pareceu muito bem. Talvez em função do próprio roteiro, o papel de muitos atores foi mal explorado justamente porque não poderia ter sido diferente: resumem-se a bordões, o que torna as seqüências superficiais. Mais uma vez, até eu notei.



O ponto controverso que pode dar um debate mais interessante, do meu ponto de vista, é a questão da violência, que traz à tona ainda outras pendengas. Penso ser mais atrativo porque as questões, citadas anteriormente e sobre as quais até arrisquei alguns palpites, surgem de uma postura que se adota para ir ao cinema. Não sei dos meus amigos, mas não fui ver Batismo de Sangue esperando qualquer coisa como um David Lynch, Wim Wenders ou Stanley Kubrick (lista intelectual, gurizada, para manter o formato de crítico de cinema). Em momento algum pensei em ser contemplado por uma montagem ao melhor estilo Nouvelle Vague (ha! por essa não esperavam!). Por isso digo que é questão de postura. Todas as críticas à estética do filme não só podem como devem ser feitas. O problema é parar por aí. Como leigo em cinema (e não digo isso para fugir à responsabilidade do que escrevo, mas apenas para alertar sobre a origem de eventuais e possíveis erros), penso que entender de cinema não é só emitir comentários quando se sai da sala, mas ter a mínima noção de que filme se está para ver. As críticas não levam em conta apenas o que é projetado no escuro - falam em orçamento, discutem possibilidades de luz, razões para os movimentos de câmera, entre (tantas) outras coisas que nem desconfio. Por que não levar em conta, também, o contexto político em que é produzido o filme? Será que um filme de temática essencialmente histórica e, portanto, política, não deve ser discutido também em função de sua proposta para a temática, de suas pretensões políticas? Neste sentido, a resposta de Ratton a algumas críticas me parece acertada: "[...] a verdade é que algumas pessoas que escrevem sobre cinema têm profunda antipatia por filmes abertos ao público. Para essas pessoas, os filmes devem ser cifrados, numa tal demonstração de inteligência e sofisticação que só os iniciados sejam capazes de decifrar. Confundem o simples, tão difícil de alcançar, com o simplório."

Penso que outras discussões sobre Batismo de Sangue não são apenas possíveis, mas necessárias. O cinema, por ser uma experiência essencialmente estética, não pode, evidentemente, abandonar qualquer referência estética. O conteúdo político de um filme, ainda mais como este de Helvécio Ratton, não existe como filme se não pelas câmeras, atores, luzes, roteiro, diálogos, figurino, etc. Mas a crítica não pode parar aí: ainda mais em um filme como este de Helvécio Ratton.

É verdade que a violência pode ser explorada das mais distintas formas. Quentin Tarantino faz sucesso no mundo todo despedaçando corpos com as hattori hanzo, espirrando sangue nas telas e demolindo carros em alta velocidade. Conforme algumas críticas, Batismo de Sangue tem excessos em alguns momentos, parece "apelar à violência". Qualquer apelo surge de uma falta. Como Ratton não tem um bom roteiro, preenche as lacunas do filme com muitas cenas de tortura. Fica evidente como a violência é central: seqüências inteiras de choques, chutes, socos, paus-de-arara, prisões e, ainda, flashbacks das mesmas ou de novas cenas violentas. Faça-se a crítica por aí, concordo. Mas, mais uma vez tentando levantar outra questão, não lembro de ter visto um filme brasileiro retratar a tortura da ditadura militar dessa forma. Concordo, mais uma vez como apontado na crítica, que o Delegado Fleury ficou uma caricatura, que há um maniqueísmo bobo às vezes, mas devemos levar em conta os propósitos do filme. Vivemos em um país que jamais conheceu o que realmente aconteceu na ditadura. Até hoje discute-se a abertura de arquivos desse período. Não conhecemos nossa história, a ponto de, como referiu o próprio Ratton, haver "um estudante que achava que esses fatos haviam acontecido no Chile e na Argentina, que para ele nossa ditadura tinha sido light".


As cenas podem ser consideradas apelativas no frágil contexto do filme, mas contribuem a um importante debate. Não podemos esquecer que foram baseadas em relatos de pessoas que estiveram naqueles porões. O incômodo gerado pelas fortes cenas de tortura serve, ao menos, para se ter uma idéia de que a ditadura não foi nada light. Não é uma experiência estética inovadora ou a reprodução de técnicas de grandes mestres da sétima arte. É uma alfinetada, talvez, também, em uma temática que já está virando lugar-comum no cinema. Mas como um passo à recuperação de uma memória que nunca nos permitiram ter, Batismo de Sangue é um clássico - e para isso vale todo o incômodo possível.