quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Ele crê que somos "Homer Simpson"s. Será que tá certo?

Por sugestão da Professora Maria Helena Weber localizei esse texto no Observatório da Imprensa. Reproduzo aqui, mas basta clicar no título pra acessar no site original (vale a pena acessar, pelos comentários). Boa leitura:
REDE GLOBO Bonner: cursos não formam jornalistas
Por Zélia Leal Adghirni em 12/10/2009
Inteligente, bem humorado, sedutor. Difícil não se deixar envolver pelo discurso fascinante de William Bonner, um verdadeiroshowman do jornalismo global em palestra para um auditório lotado de estudantes de Jornalismo na Universidade de Brasília na última segunda feira [5/10]. Bonner estava lá para lançar seu livroJornal Nacional – Modo de Fazer, dentro das atividades do acordo Globo/Universidade com a UnB. Os alunos que não puderam entrar por absoluta falta de espaço e assistiram à palestra no lado de fora, onde foi instalado um telão. Mas podiam interagir, enviando perguntas. Tudo ia muito bem, como uma boa aula de Jornalismo, até que veio a esperada pergunta sobre o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalista, pelo STF. Para Bonner, o fato de não precisar mais de diploma não muda nada no mercado profissional. Apenas dá às empresas a liberdade de contratar legalmente colaboradores de outras áreas que já atuavam no jornalismo. O que já existia de fato, disse ele. O que também já sabíamos, pois a Globo deixou claro, há muito tempo, que dá as costas para o diploma. William Bonner, por exemplo, não tem. Ele é formado em Publicidade pela USP. Mas garantiu que o fim do diploma não significa que as Organizações Globo vão agora contratar engenheiros para fazer jornalismo. A preferência será reservada aos egressos do curso do Jornalismo. Eis o paradoxo. Se as escolas são ruins, se os alunos são mal formados, por que contratar jornalistas? Até aqui, nenhuma novidade. O que surpreendeu o auditório foi o complemento da resposta. Para o apresentador doJornal Nacional, as escolas de Jornalismo não servem para formar jornalistas. Deveriam se preocupar mais com o ensino de Português e História. Para o resto, a universidade serve apenas como experiência de vida. "Jornalismo se aprende no mercado", disse ele sem medo de errar. Os cursos de Jornalismo não servem nem para ensinar ética profissional e técnicas de redação. Doação dos direitos autorais Segundo Bonner, ética se aprende na vida, é uma questão de educação. E para aprender técnicas jornalísticas, um semestre é suficiente. O rapaz da mecha branca no cabelo garantiu à platéia deslumbrada: "Em seis meses, eu pego um estudante e faço dele um editor na Globo." Confessou já ter afirmado, tempos atrás, que transformaria qualquer motorista de táxi em jornalista, mas mudou de opinião "porque agora valorizo o papel da universidade". Bonner defendeu veementemente o ensino de História e de Português, que "deveriam ser disciplinas obrigatórias e diárias" nos cursos de Jornalismo. Admite que, pessoalmente, tem muita dificuldade com a língua materna. Contou que um dia desses teve que pedir ajuda a um amigo americano para escrever a palavra "obsceno", referindo-se à forma de um biscoito. "Incrível, o americano, com seu forte sotaque, conseguiu esclarecer a questão explicando que era comsc." O mais surpreendente na fala do simpático William Bonner foi a declaração que os cursos de Jornalismo das universidades públicas estão mais preocupados com a formação de uma ideologia de esquerda do que em formar jornalistas. Seriam cursos "de doutrinamento esquerdista". E quando se é jovem, quando se tem 20 anos, é difícil divergir dos professores, disse ele. Não ficou claro se Bonner se referia à USP da época em que estudou, à USP atual, ou a todos os cursos de Jornalismo das universidades públicas brasileiras. Mas alguma coisa de bom deve ter ficado na formação do jornalista, pois ele abriu a palestra dizendo que doava os direitos autorais de seu livro à USP. Que devia isso à Universidade onde estudou sem pagar nada quando, na época, seu pai poderia ter optado por uma instituição privada. Mais respeito à universidade Imaginem o impacto e a amplitude destas declarações diante dos alunos que ouvem de nós, professores, exatamente o contrário. Que é preciso estudar política, economia, literatura, ler muito e desenvolver o espírito crítico. As idéias de Bonner, para quem não gosta de estudar, são uma carta branca para a irresponsabilidade. Para quem gosta, para quem escolheu o curso de Jornalismo "por vocação (no sentido weberiano)", que acredita que o jornalista está a serviço da sociedade e não desta ou daquela empresa, fica difícil aceitar uma visão tão redutora apresentada por um dos maiores formadores de opinião do país. A Universidade é acima de tudo um lugar de reflexão e produção de conhecimento. Dezenas de teses e dissertações são realizadas nas universidades todos os anos, sobre as mídias e, sobretudo, sobre a Globo, a única que realmente faz um "jornal nacional" no país. Acho louvável a iniciativa da Globo em procurar as escolas para dialogar. Pessoalmente, já acompanhei um grupo de alunos à sucursal da Globo em São Paulo e foi uma experiência rica, inesquecível, ver como é preparado e apresentado oJornal Hoje. Fomos muito bem recebidos. Falo aqui em meu nome. Minha opinião não envolve meus colegas ou a direção da faculdade. Tenho diploma de jornalista, 20 anos de mercado e 16 de magistério com doutoramento no exterior. Levamos quatro anos para formar um jornalista. Por isso, espero mais respeito à universidade onde ensinamos e pesquisamos com recursos públicos. É lamentável pensar que tudo isso não serve para nada.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Os cadernos da RBS

Deu no Cloaca News, e copio integralmente aqui, no Pensamento Diverso. Bela aula de jornalismo (Cloaca) e anti-jornalismo (da RBS). Clica no título pra abrir no blog original.

OS ESCRITOS SECRETOS ACHADOS NO LIXO DE ZERO HORA

No dia em que o tablóide gaúcho Zero Hora chegava às bancas com uma espetacular matéria acerca de um "novo caderno dos sem-terra", com anotações secretas que revelariam as "estratégias" do MST, a Unidade Roto Rooter de Reportagem deste Cloaca News passava pela rua lateral à sede daquele diário - curiosamente, Rua Zero Hora - quando teve sua atenção chamada por um enorme latão, cheio de embalagens gordurosas de pizza e papéis picados. Estacionamos nosso Cloacomóvel diante do recipiente e, burlando o aparato de segurança daquela organização, recolhemos a esmo o que foi possível. De volta à nossa redação, pudemos, enfim, avaliar todo o papelório. Entre o material recolhido estava um caderno escolar, de capa alaranjada, com 26 páginas escritas à mão, contendo anotações do que parece ser o resultado de uma reunião de pauta daquela gazeta, ocorrida dias antes. Sob o título "Linhas Gerais", podemos presumir que tratam-se de diretrizes editoriais que valem "p/ ZH, DSM e Pioneiro", ou seja, Zero Hora, Diário de Santa Maria e O Pioneiro, de Caxias do Sul, os três principais veículos impressos do Grupo RBS no Rio Grande do Sul. Alguns nomes estão grafados por iniciais, como YRC, por exemplo. Coincidentemente, as três letrinhas formam as iniciais da tucana Yeda Rorato Crusius. Há também referência a um certo "P.S.", em que se cobra dele uma "carta bimestral". Verificando o histórico epistolar do colunista Paulo Santana, que vira e mexe troca correspondência com YRC, imaginamos ser este o personagem da anotação. Clique para ampliar.
Nesta outra imagem (abaixo), sugere-se que "LM" repercuta "RO" e "vice-versa". O tópico trata de uma eventual "sinergia" entre os vários veículos do grupo. "LM" seria Lasier Martins, da Rádio Gaúcha e do Jornal do Almoço, na RBS TV. "RO", ao que tudo indica, é a colunista joão-ninguém de ZH, Rosane de Oliveira. Outra sigla é "TG", supostamente, o Ministro da Justiça e pré-candidato ao governo estadual Tarso Genro. Pelas instruções editoriais, deve ser atribuída a ele toda a responsabilidade por qualquer "vazamento". Não nos parece, nesse caso, que estejam tratando de problemas hidráulicos.
. . Bastante elucidativa, igualmente, a página dedicada à cobertura do MST. Amplie. . Tanto quanto o caderno "jogado em uma lata de lixo no estacionamento do Incra", apresentado por Zero Hora, que "permite que a sociedade conheça o que o movimento [MST] pensa sobre assuntos estratégicos", este odorante achado do Cloaca News permite que a sociedade conheça o tipo de jornalismo praticado pela corporação hegemônica, sob o báculo da famiglia Sirotsky, com a cumplicidade de sua devotada matilha.

Liberdade, Liberdade!!

"Mesmo que calem a minha boca, mesmo que atem os meus braços, mesmo que vendem os meus olhos, meu coração gritará por liberdade!" - Inscrição no monumento ao genocídio armênio, Estação Armênia do Metrô - SP

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Ferramentas de busca alternativas

O Google não reina absoluto, no Olhar Digital:

Sobre Honduras, e a inevitabilidade de mudanças

Artigo traduzido do espanhol, disponível em Via Política, acessado em 06/outubro/2009 (clique no título pra visitar no local de origem):
Honduras: A Constituição ilegítima
.
Por Jorge Majfud
Tradução do espanhol para o português de Vera Vassouras Uma constituição que estabeleça sua própria imutabilidade está confundindo sua origem humana e precária com uma origem divina. A disputa dialética sobre a legalidade do violento processo de destituição e expulsão do presidente de Honduras não está fechada. Há meses expusemos nosso ponto de vista, segundo o qual não houve violação à constituição por parte do presidente Zelaya no momento de convocar uma consulta não vinculante sobre uma assembléia constituinte. Porém, no fundo esta discussão é vã e encobre outro problema em sua raiz: a resistência de uma classe e de uma mentalidade que modelou os estamentos de sua própria República bananeira, e busca desesperadamente identificar qualquer mudança com o caos, ao mesmo tempo em que impõe a repressão de seu povo e dos meios de comunicação que lhe são adversos. O principal argumento dos golpistas em Honduras radica em que a constituição de 1982 não permite mudanças em seu texto (artigos 239 e 374) e estabelece a remoção de seus cargos daqueles que as promovam. A Lei de Participação cidadã de 2006, que promove as consultas populares, nunca foi acusada de inconstitucional. Pelo contrário, a participação popular é uma prescrição da mesma constituição (artigo 45). Tudo o que revela o espírito escolástico de seus redatores, matizado com uma linguagem humanística. Nenhuma norma, nenhuma lei pode estar acima da constituição de um país. Entretanto, nenhuma constituição moderna foi ditada por Deus, mas sim por seres humanos em benefício próprio. Ou seja, nenhuma constituição pode estar acima de um direito natural como é a liberdade de um povo para mudar. Uma constituição que estabeleça sua própria imutabilidade está confundindo sua origem humana e precária com uma origem divina, ou está pretendendo estabelecer a ditadura de uma geração sobre todas gerações por vir. Se este princípio de inamobilidade tivesse algum sentido, deveríamos supor que antes que a constituição de Honduras seja modificada, Honduras deveria desaparecer como país. Do contrário, dentro de mil anos esse país deverá reger-se pela mesma letra. Já os ortodoxos religiosos quiseram evitar mudanças no Alcorão e na Bíblia contando o número de palavras. Quando as sociedades e seus valores mudam e não se pode mudar um texto sagrado, salva-se o texto interpretando a favor dos novos valores. Isto fica demonstrado pela proliferação de seitas, ismos e novas religiões que surgem de um mesmo texto. Porém, em um texto sagrado, a proibição de mudanças, ainda que sendo impossível, está melhor justificada, já que nenhum homem pode emendar a letra de Deus. Essas pretensões de eternidade e perfeição não foram raras nas constituições latino-americanas que, no século XIX, pretenderam inventar repúblicas, em lugar de que os povos inventassem suas próprias repúblicas e as constituições à sua medida e segundo o pulso da história. Se nos Estados Unidos ainda está vigente a constituição de 1787, isso se deve a sua grande flexibilidade e a suas muitas emendas. Não fosse assim, hoje este país teria três quartas partes de um homem na presidência, um quase-humano. “Esse negrinho ignorante”, como o chamou o ex-chanceler de fato Enrique Ortez Colindres. Se isso fosse pouco, o artigo V da famosa constituição dos Estados Unidos proibia qualquer mudança de status constitucional referente aos escravos. O resultado de uma constituição como a de Honduras não é outro que sua própria morte, prévio derramamento de sangue, mais cedo ou mais tarde. Aqueles que alegam defendê-la, fazem-no com a força das armas e com a estreita lógica de um conjunto de normas que violam um dos direitos naturais mais básicos e irrenunciáveis. Há séculos, os filósofos que imaginaram e articularam as utopias que hoje se chamam Democracia, Estado e Direitos Humanos disseram-no de forma explícita: nenhuma lei está acima desses direitos naturais. E, se assim se pretendeu, a desobediência está justificada. A violência não procede da desobediência, senão de quem viola um direito fundamental. Para tudo o mais, está a política. A negociação é a concessão que fazem os fracos. Uma concessão conveniente, inevitável, porém, a longo prazo, sempre insuficiente. Uma democracia madura implica uma cultura e um sistema institucional que preveja as rupturas das regras do jogo. Mas ao mesmo, e por isto mesmo, uma democracia se define por permitir e facilitar as inevitáveis mudanças que vem com uma nova geração, com a maior consciência histórica de uma sociedade. Uma constituição que o impeça é ilegítima diante do inalienável direito à liberdade (de mudar) e à igualdade (de decidi-lo). É papel, é um contrato fraudulento que uma geração impõe a outra em nome de um povo já inexistente. 4/10/2009 Fonte: ViaPolítica/Tlaxcala/O autor Artigo original divulgado em 30 de setembro de 2009 Mais sobre Jorge Majfud Visite o site do autor em http://majfud.50megs.com/ Jorge Majfud é um autor associado à Tlaxcala, a rede de tradutores pela diversidade lingüística. Esta tradução pode ser reproduzida livremente na condição de que sua integridade seja respeitada, bem como a menção ao autor, à tradutora e à fonte. URL deste artigo em Tlaxcala: http://www.tlaxcala.es/pp.asp?reference=8849&lg=po

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O jornalismo e a blogosfera

Artigo publicado no Observatório da Imprensa, sobre a relevância atual da blogosfera. Clique no título abaixo para visitar o original.

Os blogs são peça essencial no jornalismo contemporâneo apesar de críticas e questionamentos

Postado por Carlos Castilho em 01/10/2009 às 12:19:19 PM

A maioria dos jornalistas ainda resiste à idéia de que os blogs tendem a ser um componente obrigatório na atividade informativa. As restrições vão desde a questão da credibilidade até à caracterização dos blogs como veículos de opiniões pessoais e como ambiente para fofocas de bairro.

Embora essas restrições e questionamentos tenham algum tipo de fundamento, elas dificultam a percepção de uma realidade mais ampla, em que fica cada vez mais claro que sem os blogs a imprensa, como a entendemos hoje, deixa de ser viável para se transformar apenas numa newsletter para segmentos restritos do público consumidor de informações.

A inviabilidade da sobrevivência do modelo atual de produção de notícias vem do fato de que os jornais, rádios, emissoras de televisão e até as páginas noticiosas na Web não têm mais condições de cobrir, apenas com o seu staff, toda a ampla agenda de interesses do público.

É uma situação quase matemática. A agenda de interesses cresceu exponencialmente por conta da avalancha informativa gerada pela internet, ao mesmo tempo em que as receitas das empresas jornalísticas caíram vertiginosamente por conta da migração publicitária para a Web e da mudança de hábitos dos consumidores de notícias. A conta não bate.

A única alternativa que parece viável no momento é ver os blogs não como um obstáculo, mas como um componente do processo de produção de notícias jornalísticas. Mas para isto é preciso levar em conta algumas especificidades deste tipo de ferramenta de comunicação:

1) Os blogs têm duas características centrais: a temática local e a publicação de opiniões pessoais.

2) A preocupação com o local vem da própria natureza do blog, produzido em quase 90% dos casos por indivíduos cuja principal característica é conhecer bem uma área geográfica ou um determinado campo de conhecimento, hobby ou profissão. Em teoria, todas as duas áreas são de grande interesse jornalístico pelo potencial de produzir notícias.

3) O caráter opinativo dos blogs é uma decorrência da qualificação intelectual dos seus autores, em geral indivíduos que dominam muito bem determinadas áreas do conhecimento mas não podem ter a função testemunhal de um jornalista profissional ou de um blogueiro quando estes se encontram no local onde ocorrem os fatos. Aqui, também, em teoria, o blog opinativo pode ter uma função chave na contextualização de noticias jornalísticas.

Procurando ver a floresta e não apenas as árvores, é possível constatar que um blog local pode virar peça da informação global com a mesma importância, ou até maior, do que os correspondentes estrangeiros ou enviados especiais. Um blogueiro de Tegucigalpa faz jornalismo local ao publicar informações sobre a crise hondurenha, mas ganha status global quando suas informações servem de base para o material jornalístico Capa da Times sobre blogs em 2006da imprensa internacional.

Menosprezar os blogs alegando que eles só repercutem o que é publicado na imprensa convencional é ver apenas uma parte do problema, ignorar de onde vem a notícia nos dias de hoje e tentar preservar um certo ar elitista do jornalismo.

Visto nesta perspectiva, é absurdo descaracterizar o blog pelo fato de ser local e produzido por uma pessoa. O que a imprensa deveria fazer é cultivar de forma cada vez mais intensa e sistemática o que especialistas como o australiano Axel Bruns[1] chamam de gatewatching, em oposição ao gatekeeping.

Em vez de priorizar a seleção de notícias que serão passadas ao público (gatekeeping ou porteiro de noticias, uma função em extinção), os profissionais deveriam preocupar-se mais em procurar saber o que está sendo publicado nos blogs (gatewatching) para identificar fatos e tendências novas que serão usadas para informar leitores, ouvintes e telespectadores.

A outra grande questão é a da credibilidade dos blogs, um tema bem mais complexo porque mexe com valores vigentes há séculos e que se baseiam no principio de que determinadas pessoas ou instituições têm o poder de certificar o que é verdadeiro ou falso.

No contexto da avalancha informativa, os instrumentos tradicionais como checagem de notícias, imparcialidade, isenção e objetividade passam a ter cada vez mais um caráter relativo já que dificilmente uma redação terá condições de chegar à essência dos fatos dada a complexidade das notícias e o ritmo frenético de publicação das mesmas. A imprensa não pode mais garantir sozinha toda a verdade porque isto é materialmente impossível. O mesmo mecanismo se aplica aos blogs.

Assim, tanto os jornalistas como os consumidores de informação e os próprios blogueiros não têm outra alternativa senão apoiar-se na chamada leitura crítica, que não tem nada de pejorativo e nem está baseada na desconfiança. A leitura crítica, sobre a qual poderemos conversar mais noutro post, está fundamentada na dúvida gerada pela constatação acaciana de que ninguém é dono da verdade.

Se ninguém pode saber tudo, todos nós temos algo que desconhecemos, algo sobre o qual temos dúvidas. Ter dúvidas na atividade jornalística é adotar a leitura crítica como ferramenta para aumentar a credibilidade na informação.


[1] Bruns é o autor do livro Gatewatching, Collaborative Online News Production. Ele é professor de jornalismo e doutor em comunicação.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Convite ATO SHOW FORA YEDA

No domingo (04/10), a partir das 15 horas, o Comitê Estadual Fora Yeda, composto por um conjunto de organizações da sociedade civil gaúcha, convida para Ato Show pelo Fora Yeda, em frente ao shopping Praia de Belas.
Entre as principais atrações estão confirmadas as presenças de Nei Lisboa, Leonardo, Sombrero Luminoso, Família Sarará, Nelson Coelho de Castro, Pedro Munhoz, Nancy Araújo, Eduardo Solari, Lolipop, Mariposa e Bandinha de Dá Dó. Os artistas participam em apoio a causa.
Os principais jornais da capital negaram-se a publicar nota paga convidando a população para o ato. Portanto, contamos com a sua solidariedade para divulgar o evento.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Enquanto isso, em Honduras...

Pescado integralmente do Diário Gauche (publicado no sábado, 26/set/2009). Muito interessante. Esse é o lado positivo das crises. É quando surgem grandes lideranças, ou, no caso, grandes promessas...

Esse menino hondurenho tem dez anos de idade

Oscar David Montesinos, um menino de apenas dez anos, tornou-se um símbolo da resistência ao golpe que derrubou, há dois meses, o presidente constitucional de Honduras, José Manuel Zelaya.

Domingo passado, num comício-protesto que reuniu milhares de pessoas em Tegucigalpa, capital do país, o pequeno Oscar fez um discurso que é de deixar qualquer um de queixo caído, não apenas pelo conteúdo como pela capacidade oratória e simpatia. Vê-se que não é um texto decorado e impressiona a articulação de sua fala.

Ele bate duro no presidente golpista Roberto Goriletti Micheletti:
- Micheletti que te vas, que te vas!

Sugerido pelo leitor André Vinicius Jobim, de Santa Maria (RS).

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O dia em que acabaram com o diploma de jornalismo no Brasil

Do site do Jornal da Globo:
Quarta-feira, 17/06/2009

Ministros do STF decidiram, por 8 votos a 1, que o diploma de jornalista não é mais necessário para exercer a profissão. A Fenaj e a ANJ protestaram contra a determinação.




sábado, 12 de setembro de 2009

Fogaça e Yeda representam o mesmo projeto político

Essa matéria do Paulo Müzell, publicada no RSURGENTE, dia 09 de setembro, dá um belo panorama da situação em que se encontra a cidade que um dia foi a sede do Fórum Social Mundial (para ler no blog original, clique no título abaixo):

Yeda e Fogaça, dois governos muito parecidos: o abandono da assistência social (I)

Por Paulo Muzell

Aparentemente, ele (Fogaça) e ela (Yeda) são muito diferentes. Ele, pelo menos na mídia, aparenta calma e ponderação, “manto diáfano” que esconde, na realidade, um temperamento lerdo e omisso. Ela, ao contrário, é a própria imagem do descontrole e da fúria. Verdade é que razões não faltam e aí temos uma “CPI da Corrupção” investigando fatos e denúncias muito graves. Mas se fizermos uma análise do caráter e das ações e, principalmente, omissões de seus governos, veremos que os dois são muito semelhantes. Ambos investiram muito pouco e se gabam de enormes proezas na perseguição do equilíbrio fiscal, sintetizado uma
expressão mágica: “déficit zero”. Mas, na verdade, arrocharam salários, abandonaram a área social e investiram muito pouco.

Em plena derrocada do modelo neoliberal Bush –Thatcher – FHC (que deu no que deu), ambos insistem nos modelos de “mercado”, na terceirização, na elevação dos salários mais altos e no achatamento dos mais baixos, nos planos de carreira que só beneficiam os de “cima e da casa” (deles, entenda-se). E, sobretudo, ambos abandonaram a área social. Não tem nenhuma importância para eles dar consistência e amplitude maior aos programas que beneficiam as populações mais carentes. O resultado é o flagrante abandono dos investimentos, projetos e ações nas áreas da assistência social, dos programas e políticas de gênero e da saúde, como veremos a seguir.

E, para finalizar, os dois governos têm contra si sérias denúncias e evidências de graves irregularidades. O governo Fogaça, convém lembrar – até, por uma questão de equilíbrio, para compensar as omissões da mídia – teve inúmeras licitações anuladas por decisão judicial. A da privatização do cadastro fiscal da Fazenda (vale lembrar, iniciativa do Cristiano Tasch, aquele mesmo que vendeu a CRT, no governo Britto) e da mega contratação de serviços de coleta do lixo pelo DMLU, que resultou no afastamento do diretor-geral da autarquia. Depois veio a grave denúncia de pagamento de propina ao Secretário da Saúde feita pelo diretor de uma empresa prestadora de serviços. Por sinal, contratada de forma irregular, estando a matéria no Ministério Público para exame.

Fica evidente o descuido do prefeito com a coisa pública quando ele nomeia como seu assessor-engenheiro o ex-prefeito de Cachoeira do Sul, Pipa Germano, colocando-o na presidência do Conselho do Plano Diretor, desconsiderando que sobre ele pesam graves denúncias de irregularidades, objeto de ações que tramitam na justiça federal. São apenas alguns exemplos.

O governo Yeda reduziu os recursos destinados à função de governo “Assistência Social”. Os três últimos balanços do Estado informam que em 2006 (último ano do governo Rigotto), as ações do setor receberam 0,74% do orçamento total, o que é evidentemente muito pouco. Pois nos dois primeiros anos do atual governo o percentual diminuiu para apenas 0,64%, a média do biênio. E a execução orçamentária do primeiro semestre de 2009 é ainda pior. De um montante total orçado dos Fundos da Assistência Social e da Criança e do Adolescente, de 14,2 milhões, apenas 701 mil, ou seja, 5%, tinham sido efetivamente gastos. Este dado fala por si, dispensa palavras e comentários adicionais, evidenciando o estado de total abandono da assistência social no Estado.

Em 2008, a Prefeitura da capital gastou em assistência social 89 milhões, de uma despesa total de 3,2 bilhões (2,7%). Na Lei
Orçamentária deste ano a participação caiu para 2,5%. E a execução é muito pior. Quatro importantes programas – Sentinela, Inclusão Produtiva, Sistema de Segurança Alimentar e Implantação do Cadastro único dos Programas Sociais - não tinham sido iniciados no final de agosto. Mas é no investimento que fica claramente caracterizado o abandono do setor. De um investimento anual previsto na Prefeitura de 387 milhões, a FASC (Fundação de Assistência Social e Cidadania) foi contemplada com apenas 1,4 milhões (0,4%!). E se isso é pouco, a execução, o efetivamente gasto é pior ainda. Dos 68 milhões investidos até agora, apenas 78 mil foram aplicados pela FASC, ou seja, 0,1% do total.

Estes preocupantes números confirmam o que a gente no dia a dia constata a olho nu, aqui em Porto Alegre e nas principais cidades gaúchas: o crescente abandono das populações mais carentes.




domingo, 30 de agosto de 2009

Hey - Pixies

Hey Been trying to meet you Hey Must be a devil between us Or whores in my head Whores at my door Whores in my bed But hey Where Have you Been If you go I will surely die Were chained Uh said the man to the lady Uh said the lady to the man she adored And the whores like a choir Go uh all night And mary aint you tired of this Uh Is The Sound That the mother makes when the baby breaks Were chained

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Fórum de softwares livres condena AI-5 Digital

Notícia da Rede Brasil Atual, publicada hoje:

Fórum de softwares livres condena AI-5 Digital

Pedindo liberdade, décima edição do FISL em Porto Alegre discute licenças não restritivas para programas de computador e pede a derrubada da lei de crimes de internet relatada pelo senador Azeredo. Presidente Lula participa do evento na sexta

Por: Anselmo Massad

Publicado em 25/06/2009

Fórum de softwares livres condena AI-5 Digital

Defesa de softwares livres ou de código-aberto inclui liberdade na internet (Foto: Divulgação FISL)

Na abertura da décima edição do Fórum Internacional do Software Livre em Porto Alegre, fundador da Fundação do Software Livre (FSF na sigla em inglês), Richard Stallman, definiu a luta do movimento como "pela liberdade". Para ele, os programas de computador não podem ter restrições de propriedade intelectuais, do contrário os usuários também deixam de ser livres.

Além da reafirmação da necessidade de fortalecera comunidade de programadores que mantém, em redes de voluntários, milhares de softwares livres e de código-aberto, outro ponto citado na abertura do evento foi o substitutivo ao projeto de lei 89/2003 do Senado sobre crimes na internet. Batizado por ativistas e blogueiros como AI-5 Digital, o texto poderia gerar ameaças à privacidade e à liberdade de expressão.

José Henrique Portugal, assessor técnico de Eduardo Azeredo (PSDB-MG), relator do substitutivo, e o desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Fernando Botelho, participaram do evento para explicar os objetivos do projeto. Não houve debate entre eles e os participantes do FISL.

Lula

Nesta sexta-feira (26), o presidente Lula deve participar do evento. Ele deve discursar no início da tarde para um grupo de 50 pessoas. A restrição se deve a questões de segurança, segundo informações da blogueira Vanessa Nunes.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Essa notícia foi publicada no (excelente) Jornal Já, e vale o destaque:

Já viu processo por causa de apelido?

11/06/09

Por Ana Lúcia Mohr

Inspira revolta o processo do fotógrafo da Zero Hora Ronaldo Bernardi contra Wladymir Ungaretti, professor de jornalismo da UFRGS, cujo blog e site estão sob censura.

Quem já freqüentou suas aulas sabe que Ungaretti costumava madrugar para fazer seu exercício de crítica à mídia corporativa (www.pontodevista.jor.br/blog), que, mais tarde, era repetido numa sala da Fabico (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação). Bernardi calhou de ser um dos criticados.

Mas então, cara leitora, caro leitor, você deve estar pensando que Ungaretti foi processado por denunciar as cascatas (fake, encenação, no jargão jornalístico) do fotógrafo, certo? Errado. Bernardi o processou por causa do apelido pelo qual Ungaretti o chamava (Fotonaldo). Detalhe: não foi o professor que o inventou. Sim, juro.

Liguei para a Zero Hora hoje de manhã e pedi para falar com o Ronaldo Bernardi. A mulher da recepção me passou para a editoria, onde um homem atendeu e passou para o fotógrafo. Este não quis falar sobre o processo (“meu advogado disse para eu não falar”, “o processo corre em segredo de justiça”). Insisti um pouco, mas não adiantou. Minutos depois, telefono novamente e peço para falar com o Fotonaldo. “Hãn”, ronronou a moça da recepção. “Ops, com o Ronaldo Bernardi”. Tudo certo. Ela me passa para a editoria do repórter.

- Alô, eu poderia falar com o Fotonaldo?

- Quem tá falando?

- Ana Lúcia, do Jornal Já

- Olha, ele saiu. Tá em pauta.

- Ok, obrigada.

Piada? Pois saibam que, por ter usado um apelido que todos os seus colegas conhecem, Ungaretti foi obrigado a retirar 10 anos de trabalho da web (além de atualizar o blog diariamente, ele disponibilizava mensalmente uma nova revista eletrônica em www.pontodevista.jor.br).

O desânimo por ter de tirar do ar 10 anos de trabalho e, principalmente, por estar impedido de usar a arma da crítica tem se manifestado nas aulas do professor. Não é preciso ser seu aluno para saber disto, basta acessar a página www.pontodevista.jor.br para ter idéia do baque. É que lá está um dos lemas de Ungaretti, resumido numa frase de John Reed: “Descobri que só me sinto feliz ao trabalhar intensamente em algo que gosto”.

Acessada em 24/06/2009. LSR

Tirando as teias do blog...

Há tempos não blogava, e depois de postar a última mensagem achei que devia alguma explicação para um errante que por acaso se deparasse com essas palavras. O que acontece, em poucas palavras, é que meu tempo tem andado extremamente exíguo, compartilhado entre trabalhos acadêmicos, trabalho regular, família, sindicato. Mal posso me dar ao luxo de pegar um resfriadinho de vez em quando. No meu caso não tem cabido sequer aquela "perguntinha": Afinal, o que tu faz da meia noite às seis? Parte desse tempo já tem agenda fixa... Mas pretendo ser mais assíduo por aqui. Vamos ver se consigo cumprir essa intenção.

Sobre o blog Fatos e Dados (da Petrobras)

Um acontecimento ocorrido na blogosfera repercutiu fortemente nos mídias tradicionais do Brasil: a criação do blog da Petrobras. Você se pergunta: “Mais um blog. E daí?” Daí que a internet ainda é uma invenção jovem, há muito o que inovar, e a comunicação da Petrobras demonstra isso.

Envolvida em um jogo de forças que tem como foco a exploração de jazida de petróleo da plataforma Tupi, o chamado “pré-sal”, e as eleições gerais de 2010, a Petrobras tornou-se alvo de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para averiguar uma manobra contábil realizada para reforçar o caixa da empresa, entre outras justificativas. Os grandes jornais do país deram ampla cobertura ao assunto, mas sempre dentro do ponto de vista do veículo, o que nem sempre representa todas as posições de nossa complexa e heterogênea sociedade, e certamente difere do entendimento da própria Petrobras. Partindo desse princípio, e buscando aproximar-se da população brasileira, a equipe de comunicação da companhia resolveu criar um blog: o “Fatos e Dados” (PetrobrasFatoseDados.wordpress.com).

Talvez mesmo sem ter idéia da repercussão desse ato, o blog publicou perguntas feitas pelo jornal “O Globo”, e as respectivas respostas, antes até de sua publicação no jornal. Ou seja, o jornal sofreu um “furo” da própria fonte. Realmente, é o primeiro grande caso em que um jornal sente-se intimidado pela fonte, e reivindica proteção. A estratégia funcionou, os jornais alimentaram a polêmica, e o blog da Petrobras é um sucesso na internet.

Esse fato é cheio de simbolismo e significados. Tem evitado muitas distorções nas respostas publicadas, pois virtualmente elimina a mediação dos grandes jornais entre a fonte e o público, mas acima de tudo essa iniciativa é inovadora, pois é pioneira na utilização dessa ferramenta como instrumento oficial de comunicação institucional. Mas a comunicação da Petrobras vai ainda além. Porque pode, e há verba para isso, tem patrocinado links em alguns jornais que publicam matérias sobre o caso. Esses links remetem à página do blog, e dessa forma o leitor online do jornal conhece e tem acesso à outra fonte. Nesse caso, à visão da Petrobras. A equipe de comunicação também passou a monitorar os diversos veículos de notícias, e tem respondido através do blog. O que no passado era papel do porta-voz, hoje é desempenhado, com mais eficiência, pelo blog.

Mas ao mesmo passo em que isso é salutar, pois dá espaço ao contraditório, pode estar sinalizando não apenas que está havendo um equilíbrio na balança, mas também que a disputa nas mídias tende a se deslocar para a internet. Muitos formadores de opinião têm preferido informar-se online, seja em sites de grandes jornais, seja em blogs alternativos, e há tendência de crescimento. A interatividade também aqui mostra seu poder, pois várias notícias são alertadas a partir de sugestões em comentários de notícias. Talvez até algumas das estratégias do blog, como patrocinar links, podem ter surgido ali.

Há uma nova mídia funcionando, e tudo indica que a mudança é irreversível. O advento da internet tem dado às informações velocidade compatível com sua relevância, e há muito tempo carecemos de credibilidade. Por outro lado, a blogosfera há muito tem se mostrado um canal eficiente de comunicação, com participação e interação do público leitor. Todas essas constatações, mais a hostilidade das mídias tradicionais (que se traduz em preconceito aos blogs) parecem indicar que os jornais que não adequarem seu conteúdo editorial aos novos tempos se tornarão em pouco tempo extintos. Esse caso pode até não servir como padrão para outros, mas já é um marco para o jornalismo e relações públicas no Brasil. Fico feliz de viver esse momento, de poder interagir nessa mudança. De qualquer forma, estamos diante de uma nova era na imprensa. Definitivamente, estamos entrando na era da informação.