Porto Alegre - Um texto publicado na revista Veja desta semana, sobre a morte do bispo emérito de Santa Maria, Dom Ivo Lorscheiter, tem gerado revolta no meio religioso brasileiro. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota oficial, repudiando o texto da revista Veja. Na nota, a CNBB exige uma reparação da revista e questiona a quem interessa a “segunda morte” de Dom Ivo Lorscheiter.
Na seção “Datas”, a publicação semanal da editora Abril diz que Dom Ivo apoiou a criação de bandos armados, que teriam dado origem ao Movimento Sem Terra, e chama a Teologia da Libertação de uma “excrescência saída da cabeça de padres” latino-americanos.
A Prefeitura Municipal de Santa Maria e o projeto Cooesperança, que era apoiado pela diocese de Dom Ivo, também divulgaram notas na imprensa criticando a atitude de Veja. A Irmã Lourdes Dill, que coordena o Projeto Esperança e trabalhou durante 20 anos com Dom Ivo, explica os motivos da revolta contra a revista. “Já que a Veja, covardemente, fez uma denúncia contra Dom Ivo, coisas que ele não fez. Colocaram que Dom Ivo politizou o evangelho. Para mim, politizar o evangelho é uma função nossa, como cristãos. Quem não politiza o evangelho, não pode ser chamado de cristão. Dom Ivo teve essa postura de unir fé e vida, e trazer para o dia-a-dia da vida o evangelho politizado”, afirma.
Dom Ivo Lorscheiter foi Secretário Geral da CNBB entre 1972 e 1978. Depois, assumiu a presidência da entidade, onde ficou até 1986. Neste período, se notabilizou por defender publicamente os perseguidos pela ditadura militar. Também apoiou o Movimento Sem Terra (MST), na época do seu surgimento, na região Norte do Rio Grande do Sul. Uma das lideranças do MST que viveu esta época, Mario Lill opina sobre as afirmações da revista Veja. “Talvez essas fofocas que a Veja anda lançando estejam ligadas a isso. Porque a Veja sempre foi uma defensora do latifúndio, e todo aquele que questionou o latifúndio foi caçado”, diz.
O bispo de Santa Cruz do Sul, Dom Sinésio Bohn, afirma que, durante toda a sua trajetória, Dom Ivo foi perseguido pela imprensa conservadora, entre a qual figura a publicação da editora Abril. “Ela é uma delas, que sempre foi caluniosa, falsa, injuriosa, injusta e difamatória. Estão coerentes com sua história. Este grupo sempre caluniou Dom Ivo e a Igreja. São, realmente, um grupo, do ponto de vista da verdade, absolutamente sem credibilidade”, afirma. Dom Sinésio afirma que nem a morte de Dom Ivo foi respeitada pela revista. “Dos mortos não se fala mal. Nem isso são capazes de fazer. Porque ele sempre foi firme, impertubável. Sempre defendeu o que parecia justo, verdadeiro. Ele também se pegou com as esquerdas, dentro e fora da Igreja. Seguiu sua consciência e sempre defendeu os direitos humanos”.
Dom Ivo Lorscheiter morreu na tarde do dia 5 de março, no Hospital da Caridade de Santa Maria. Ele tinha 79 anos.
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